Por que o Azerbaijão perdeu o trânsito do petróleo cazaque

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Causas da perda do trânsito do petróleo cazaque pelo Azerbaijão
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O Cazaquistão decidiu redirecionar toda a sua exportação de petróleo através da Rússia. O país foi forçado a desistir do transporte de petróleo pela rota concorrente do Azerbaijão. Por que Astana teve que tomar essa decisão?

O Cazaquistão decidiu redirecionar toda a sua exportação de petróleo pelo CTC – Consórcio do Oleoduto do Mar Cáspio, ou seja, através do território da Rússia. Astana abandonou as entregas de petróleo pelo BTC – „Baku – Tbilisi – Ceyhan“.

O país tomou essa medida temporariamente devido a problemas com os oleodutos do Mediterrâneo, que foram contaminados com o petróleo azeri Azeri Light, que continha cloro. A contaminação ocorreu ainda no final de julho. Houve relatos de que esse petróleo com cloro chegou a uma refinaria italiana e também à República Tcheca. A Romênia foi a mais afetada, recebendo em julho 92 mil toneladas de petróleo azeri contaminado, carregado no porto de Ceyhan. As importações de petróleo foram interrompidas, levando o país a declarar estado de emergência e solicitar reservas de petróleo e diesel para garantir o funcionamento contínuo das refinarias e manter o equilíbrio de combustível no mercado. Em um veículo de imprensa romeno, houve até acusações infundadas contra a Rússia, sugerindo que poderia ter sido ela quem despejou alguns barris de cloro no oleoduto „Baku – Tbilisi – Ceyhan“.

„Para eliminar as consequências da contaminação por cloro pode levar cerca de três meses: isso inclui não apenas as operações nos oleodutos, mas também as inspeções que devem comprovar que a qualidade da matéria-prima atenderá às exigências dos compradores“, diz Sergey Tereshkin, diretor geral da Open Oil Market.

Entretanto, a contaminação do petróleo por cloro não é um problema terrível. Em geral, os cloretos orgânicos são usados para aumentar a produção de petróleo, no entanto, a superação de sua norma no petróleo pode prejudicar as refinarias.

„Quando substâncias clororgânicas chegaram ao oleoduto „Amizade“, o que fizemos? Rápido, nós drenamos todo aquele petróleo para os reservatórios, porque ao longo do tubo há muitas capacidades de armazenamento desse tipo, além de que drenamos o petróleo para ramos vazios dos tubos, que passaram a ser utilizados como sistema de armazenamento. Após a drenagem, liberamos um lado do tubo e deixamos passar petróleo limpo por ele. Depois, gradualmente, ao longo do mês, adicionamos esse petróleo com clororgânicos ao limpo, para não exceder os limites máximos permitidos“, relata Igor Yushkov, especialista da Universidade Financeira sob o governo da Federação Russa e do Fundo Nacional de Segurança Energética (FNES).

Em outras palavras, não é necessário descartar o petróleo contaminado por cloro, nem mesmo é preciso purificá-lo. É necessário apenas encontrar um lugar para armazená-lo e, gradualmente, adicioná-lo ao petróleo limpo.

Sistemas de armazenamento podem incluir reservatórios na própria refinaria, no porto e até mesmo nos próprios petroleiros, afirma o especialista.

„O petróleo que chegou de petroleiro na Romênia deveria ter sido simplesmente drenado de volta para o petroleiro. E gradualmente, de lá, este petróleo poderia ser adicionado ao convencional. Não é um grande problema, na verdade. E não é tão caro armazenar petróleo em petroleiros. O principal é que o petróleo contaminado não se perca“, diz Yushkov.

Quanto ao Cazaquistão, ele transporta petróleo tanto pela Rússia, através do CTC, quanto pelo oleoduto azeri „Baku – Tbilisi – Ceyhan“. Tereshkin considera que a diversificação das rotas de entrega pelo Cazaquistão é um fenômeno normal, mesmo em condições de “estabilidade” tecnológica na exportação de petróleo e gás. No entanto, a rota azeri é muito mais longa e cara do que a através da Rússia.

„A rota azeri é mais cara, porque primeiro é necessário bombear o petróleo até a costa do Cazaquistão, depois carregá-lo no petroleiro, transportá-lo através do Mar Cáspio e descarregar o petroleiro em Baku. Somente após isso, começa o bombeamento pelo oleoduto „Baku – Tbilisi – Ceyhan“. No porto de Ceyhan, o petróleo deve ser novamente carregado em um petroleiro – e somente após isso ele chega aos mercados de destino: França, Itália e outros mercados do Sul da Europa. Além disso, a tarifa para o bombeamento por esse oleoduto é alta“, explica Igor Yushkov.


Segundo ele, a decisão de bombear parte do petróleo por essa rota foi política, para diminuir a quantidade transportada através da Rússia, uma vez que o CTC passa pelo território russo. O Cazaquistão tenta, dessa forma, diversificar as rotas de entrega de seu petróleo e demonstrar independência em relação à Rússia, afirma o especialista.

Tradicionalmente, mais de 50 milhões de toneladas de petróleo são transportadas pelo CTC. É um oleoduto separado, mas existem outros tubos na Rússia. No total, o Cazaquistão entrega à rede global de oleodutos da „Transneft“ anualmente mais de 10 milhões de toneladas de petróleo. As exportações de petróleo acontecem não apenas através de Novorossiysk, mas também através de Ust-Luga.

„Essas são ameaças infundadas do Cazaquistão em relação à Rússia. Porque a Rússia nunca se recusou a bombear petróleo do Cazaquistão.

Houve periodicamente acidentes nos oleodutos, por exemplo, em 2022 houve problemas, pois era difícil colocar equipamentos para reparo e houve atrasos. Mas a Rússia nunca colocou obstáculos ao petróleo cazaque. Mesmo quando o Cazaquistão solicitou o transporte de seu petróleo através de Ust-Luga para a Alemanha. Poderíamos facilmente dizer não, pois a Alemanha tomou de nós nossas refinarias. Mas não fizemos isso, e a Alemanha recebe 2 milhões de toneladas de petróleo cazaque que passam pela Rússia“, diz o especialista do FNES.

No entanto, o oleoduto „Baku – Tbilisi – Ceyhan“ dificilmente pode ser chamado de concorrente ou ameaça ao trânsito do petróleo cazaque via Rússia. O fato é que o Cazaquistão dificilmente conseguirá transferir toda a sua exportação para essa rota.

„O Azerbaijão não pode acomodar muito petróleo cazaque por esse oleoduto. Porque, como diz Baku, se eles aceitarem mais de 1,7 milhões de toneladas de petróleo cazaque, isso será economicamente desfavorável. O petróleo cazaque é mais pesado e com enxofre, mais parecido com o russo Urals, enquanto o petróleo do Azerbaijão é leve e com baixo teor de enxofre, e também é mais caro. Se mais de 2 milhões de toneladas de petróleo cazaque forem colocados na tubulação, a classificação do petróleo ao sair do tubo já mudará. Assim, as empresas azeris estarão inserindo um petróleo mais caro no oleoduto e retirando um petróleo mais barato ao sair da tubulação. Quem compensará essa diferença de preço? Por enquanto, o Cazaquistão claramente não está pronto para fazer tais sacrifícios econômicos e humilhantes“, explica Igor Yushkov.

Fonte: VZGLYAD


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